Portuguese listening/reading practice – Meditação e foco no macarrão Posted by carol on Jan 30, 2018 in Brazilian Profile, Culture, Learning, Spelling, Vocabulary
[Prática de escuta e leitura em Português]
Olá, pessoal! Hello, guys!
January is up, so it’s time to practice our reading and listening skills! Today’s text is entitled “Meditação e foco no macarrão” (Meditation and focus on the spaghetti) by Brazilian writer and journalist Antônio Prata. He talks about relaxing, anxiety and social media, so pay special attention to these terms when they come up!
Once again, let’s remember the steps:
- Listen to the audio first. See if you can identify any words and write them down, if you want to.
- Scroll down and read the text. You can try reading it out loud to practice your pronunciation and speaking skills, or play the audio again and follow as you listen. Read each sentence carefully and see what you can recognize and understand.
- Check translated text in italics. What were you able to grasp? Which parts were the most difficult? It’s a good idea to read the text in Portuguese again now that you know its full meaning.
1. Ouça/ Listen
Part 1:
Part 2:
Part 3:
2. Leia/ Read
Parte 1: Meditação e foco no macarrão
“Sente os pés no chão”, diz a instrutora, com a voz serena de quem há décadas deve sentir os pés no chão, “sente a respiração. Inspira. Expira”, mas eu não consigo sentir os pés no chão nem a respiração, só um certo incômodo por estar ali de olhos fechados no décimo segundo andar de um prédio entre milhares de outros prédios na cidade de São Paulo, sentado em círculo junto a meia dúzia de pessoas de olhos fechados que também tentam sentir os pés no chão e a respiração. Há um quê de fracasso em estar ali, um fracasso coletivo, da espécie: a humanidade de segunda época, após ter sido reprovada no curso “Existir”.
“Inspira, expira”, ela diz, mas o narrador dentro da minha cabeça fala mais alto: “Eis então que no início do terceiro milênio, tendo chegado à Lua e à engenharia genética, os seres humanos se voltavam ávidos a técnicas milenares de relaxamento na esperança de encontrar alguma paz e algum sentido para suas vidas simultaneamente atribuladas e vazias”.
Um lagarto, penso, jamais faria um curso de meditação. “Sente a pedra. A barriga na pedra. Relaxa a cauda. Agora sente o sol aquecendo as escamas. Esquece as moscas. Esquece as cobras rondando a toca. Inspira. Expira.” Eu imagino que o lagarto sinta a pedra. A barriga na pedra. O prazer simples e ancestral de lagartear sob o sol.
Parte 2:
Se o lagarto consegue esquecer as moscas ou a cobra rondando a toca, já não sei. A parte mais interna e mais antiga do nosso cérebro é igual a dos répteis. É dali que vem o medo, ferramenta evolutiva fundamental para trazer nossos genes triunfantes e nossos cérebros aflitos através dos milênios até aquela roda, no décimo segundo andar de um prédio na cidade de São Paulo, tentando aprender a sentir o pé no chão, a prestar atenção na respiração, a esquecer as moscas e as cobras que rondam nossas tocas.
Não há nada de místico na meditação. Pelo contrário. Meditar é aprender a estar aqui, agora. Eu acho que nunca estive aqui, agora. (Viagem de ácido não conta). O ansioso está sempre em outro lugar. Sempre pré-ocupado. Às vezes acho que nasci meia hora atrasado e nunca recuperei esses trinta minutos. “Inspira. Expira”.
Não é um problema só meu. A revista dominical do “New York Times” fez uma matéria de capa ano passado sobre o tema. Dizia que vivemos a era da ansiedade. Todas as redes sociais são latifúndios produzindo ansiedade. Giramos as timelines à procura do pote de ouro no fim do arco-íris, mas –spoiler alert!– o time-arco-line-íris não tem fim. Abrimos as caixinhas de mensagem como crianças atrás de biscoitos e sofremos quando não há biscoitos –num mundo real e cheio de biscoitos.
Parte 3:
Antas! Mesmo o presente mais palpável, como um prato fumegante de macarrão, nós conseguimos digitalizar e transformar em ansiedade. Eu preciso postar a minha selfie dando a primeira garfada neste macarrão, depois nem vou conseguir comer o resto do macarrão, ou sentir o gosto do macarrão, porque estarei ocupado conferindo quantas pessoas estão dando likes e comentando a minha foto comendo o macarrão que esfria à minha frente.
“Inspira, expira”. A voz da instrutora é tão calma e segura que me dá a certeza de que ela consegue comer o macarrão e me dá a esperança de que também eu, um dia, aprenderei a comer o macarrão. É só o que eu peço a cinco mil anos de tradição acumulada por monges e budas e maharishis e demais sábios barbudos ou imberbes do longínquo Oriente. “Inspira. Expira”. Foco no macarrão.
Meditation and focus on the spaghetti
Part 1:
“Feel your feet on the ground,” says the instructor, with the serene voice of those who for decades feel their feet on the ground, “feel your breathing, breathe in, breathe out,” but I can not feel my feet on the ground or my breathing, only a little annoyance to be there with eyes closed on the twelfth floor of a building among thousands of other buildings in the city of São Paulo, sitting in a circle with half a dozen people with closed eyes who also try to feel their feet on the ground and breathe. There is a sense of failure about being there, a collective failure of the species: the humanity of the second round, after having failed the “Existing” course.
“Breathe in, breathe out,” she says, but the narrator inside my head speaks louder: “So then, at the beginning of the third millennium, having arrived on the Moon and genetic engineering, human beings became eager for millennial techniques of relaxation in the hope of finding some peace and some meaning for their lives, simultaneously troubled and empty. “
A lizard, I think, would never take a meditation course. “Feel the rock, your belly on the rock, relax your tail, now feel the sun heating your scales, forget the flies, forget the snakes prowling, breathe in, breathe out”. I imagine the lizard feeling the rock. His belly in the rock. The simple and ancestral pleasure of ‘lizarding’ under the sun.
Part 2:
If the lizard can forget about the flies or the snake prowling, I do not know. The innermost and oldest part of our brain is the same as that of reptiles. That’s where fear comes in, a fundamental evolutionary tool to bring our triumphant genes and our distressed brains through the millennia to that circle, on the twelfth floor of a building in the city of São Paulo, trying to learn to feel the ground, to pay attention to my breathing, to forget the flies and the snakes that prowl.
There is nothing mystical about meditation. On the contrary. To meditate is to learn to be here, now. I guess I’ve never been here, now. (Acid trips do not count). The anxious being is always somewhere else. Always pre-occupied. Sometimes I think I was born half an hour late and never recovered those thirty minutes. “Breathe in, breathe out.”
It’s not just my problem. The New York Times Sunday magazine made a cover story last year on the subject. It said we are living the age of anxiety. All social networks are latifundia producing anxiety. We check timelines for the pot of gold at the end of the rainbow, but -spoiler alert! -the timeline rainbow has no end. We open the inboxes like children after cookies and we suffer when there are no cookies – in a real world full of cookies.
Part 3:
Fools! Even the most palpable present, like a steaming spaghetti dish, can be digitized and turned into anxiety. I need to post my selfie getting the first spaghetti bite, then I won’t even be able to eat the rest of the spaghetti, or taste the spaghetti, because I’ll be busy checking how many people are liking and commenting on my photo eating the spaghetti that gets colder right before me.
“Breathe in, breathe out.” The voice of the instructor is so calm and sure that it gives me the certainty that she can eat the spaghetti and gives me the hope that I too will one day learn to eat the spaghetti. It is the only thing I ask from five thousand years of tradition accumulated by monks and Buddhas and Maharishis and other bearded o ages of the Far East. “Breathe in, breathe out.” Focus on the spaghetti.
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