A Carteira de Trabalho e Previdência Social, que existe no Brasil desde 1932, é extremamente difícil de explicar para um estrangeiro falante do inglês.
Eu normalmente a descrevo como “a work passport” (“um passaporte de emprego”), afinal de contas, ela é quase do mesmo tamanho e formato que um passaporte para viajar, e é usada para entrada e saída legal, não de países, mas de empresas.
Ela guarda o histórico, inclusive, como um passaporte, de todas as empresas onde o trabalhador já foi admitido. E quanto mais empresas “visitar”, mais carimbos terá – como em um passaporte.
Mas a carteira de trabalho é, na verdade, muito mais complexa do que um passaporte. No fundo, é um documento que visa proteger os direitos do trabalhador, tanto que a primeira folha da carteira é dedicada à Declaração Universal dos Direitos do Homem; direitos como a livre escolha de emprego, igual remuneração por igual trabalho, e de organização de sindicatos.
Na CTPS são registrados salários e filiações, além de comprovantes de vínculos empregatícios. Há folhas dedicadas a dicas de segurança no trabalho, e, como possui foto e nome, vale até como identidade. Nela são guardados dados médicos, como alergias e grupo sanguíneo. É um documento “vale-tudo”.
Talvez um nome mais adequado a ela seja “work record booklet” (“livreto de histórico de emprego”).
Assuntos trabalhistas em países como Estados Unidos são, em comparação, muito mais informais. Para ter o direito de trabalhar, a pessoa só precisa ser maior de 16 anos (menos em alguns lugares), ter alguma forma de identificação (normalmente a carteira de motorista) e um CPF (Social Security Number). E só.
As outras informações, como as de salários, datas de férias concedidas e licenças médicas. são guardadas e arquivadas ao critério de cada empresa. Se um empregado sai da empresa, esse fato tampouco precisa ser informado a algum ministério ou outro órgão do governo.
Por um lado, essa falta de burocracia nos Estados Unidos e outros países angloparlantes facilita a contratação, mas, por outro, o Brasil tem muito a ensinar sobre como cuidar bem do trabalhador.
Fonte: Como dizer “chulé” em inglês, de Ron Martinez. Compre na Livraria Cultura.